Uma gestante de 32 anos morreu depois de passar mal após o trabalho de parto realizado nesta semana no Hospital Regional de Ariquemes (RO), no Vale do Jamari. De acordo com a família, a unidade hospitalar não possuía um médico obstetra à disposição para realizar o parto e alega que houve negligência do hospital ao realizar ao tentar forçar um parto de forma normal e não por uma cesárea, mesmo sabendo que a mulher possuía um histórico de complicações. Secretário de Saúde de Ariquemes diz que não houve negligência.
Sandra Araújo Torres estava na segunda gravidez e na gestação anterior sofreu com complicações no trabalho de parto do filho, que atualmente possui seis anos. Nesta gravidez, apesar de passar toda a gestação da criança em baixo risco, a família informou a unidade hospitalar sobre os problemas ocorridos no parto anterior. Segundo o secretário de saúde, não constava no prontuário da gestante essa possibilidade de complicação.
Conforme a cunhada da vítima, Isabel Veríssimo, a mulher começou a sentir as dores do parto na madrugada de segunda-feira (10) e estava muito feliz em saber que estava na hora da filha nascer.
“Quando chegamos ao hospital regional, falaram que não tinha médico obstetra e que iriam mandá-la para Porto Velho. Mas depois de realizaram o exame de toque, disseram que não teria tempo, devido o bebê estar a cinco centímetros para nascer e levaram ela para dentro do hospital e ficamos esperando sem saber sobre o que iria acontecer”, relata.
Segundo Isabel, uma enfermeira relatou que estava tudo bem e o bebê estava quase nascendo. Ao retornar na unidade hospitalar, a cunhada foi informada de que a sobrinha havia nascido e que ela estava bem, mas não deixaram entrar no quarto para ver o estado de saúde de Sandra.
“Depois da cesárea, eles a levaram para o quarto, mas ela estava debilitada com problema na visão e um médico geral disse que teria que fazer outra cirurgia e a levou para a sala. Enquanto isso, a gente continuava sem saber o que realmente estava acontecendo e durante a tarde, o médico solicitou que meu irmão comprasse um compartimento para colocar o útero dela que havia sido retirado na cirurgia e o meu irmão foi comprar”, comenta.
Para Isabel, o hospital informou que Sandra teria sofrido uma hemorragia e estava recebendo sangue. Posteriormente, a unidade hospitalar novamente solicitou que ela fosse encaminha para Porto Velho, mas agora pelo transporte aéreo de emergência, pois o estado de saúde de Sandra era grave e precisava ser internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
“Ela precisaria ficar na UTI, o que não possui no hospital. A partir daí, ficamos preocupados, pois o tempo passava e ela continuava no local e ao questionar o motivo dela não ter saído, disseram que estavam aguardando o piloto da aeronave. Durante a noite, ela continuava na unidade e na sala da direção fui informada que estavam procurando pela vaga da UTI em um hospital privado”, revela Isabel.
A unidade hospitalar relatou aos familiares que havia uma vaga na UTI. “Na manhã seguinte, retornamos ao hospital e o médico avisou que ela não teria resistido depois de sofrer uma parada cardíaca. Os médicos ficaram por mais de uma hora tentando reanimá-la, mas não conseguiram”, relata Isabel.
O marido de Sandra, Francisco Veríssimo, ainda não entende o motivo de tanta demora por parte do hospital em tomar alguma providência. “Ela chegou lá com saúde e ninguém informava nada sobre o que acontecia, pois se fosse o contrário, nós iriamos procurar alguma forma de levá-la para outro hospital, eles contribuíram com a morte dela”, afirma Francisco.
O secretário de saúde de Ariquemes, Fabricio Smaha, disse em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (14) que o município cumpriu todos os protocolos e que a morte ocorreu em decorrência de um problema de Sandra, exclusivamente.
“O protocolo do Ministério da Saúde é que se comece com o parto normal, caso ele não seja possível, caso durante o parto se perceba que não tem uma indicação clínica para parto normal aí evolui para uma cesárea. Pelo prontuário médico dela, tudo isso aconteceu. Nós não tínhamos obstetra de plantão porque a médica estava de atestado”, explica.
Fábrício disse que os obstetras que atuam na cidade vêm de outras localidades e por isso na ausência de um deles, a reposição demora. Em relação à alegação da família que a paciente já tinha uma indicação que não poderia fazer parto normal, Smaha disse que na ficha da paciente não há indicação dessa impossibilidade.
Ele explicou também que um distúrbio de coagulação foi detectado e foi necessário fazer um procedimento chamado histerectomia, que é a retirada do útero. Após o procedimento, a paciente teria continuado com o sangramento. Na versão dele, ela foi transferida para a UTI, mas o quadro não pôde ser revertido.
“Não houve negligência. Toda cirurgia é envolvida de riscos. Pela indicação clínica nos prontuários, todos os atendimentos foram feitos de imediato. Estamos solidários a família, o luto é difícil, mas não houve negligência”, justifica.