Marlon foi resgatado durante a maior cheia do rio Madeira, em 2014, pela Organização Não Governamental (ONG) Amigos de Patas. Sete anos depois ele continua morando em um dos abrigos que a entidade possui em Porto Velho.
E Marlon não vive sozinho. Somando os cães e gatos abrigados nas duas unidades, a Amigos de Patas atualmente possui mais de 300 animais sob tutela.
A criadora da ONG, Clotilde Brito, trabalha com resgate e acolhimento há 15 anos. Em todo esse tempo, mais de 10 mil salvamentos já foram realizados. Somente durante a cheia histórica, os abrigos ganharam 700 novos moradores.
“Eles ficavam por cima dos telhados das casas, não conseguiam beber água, nem comer. O que a gente fazia? Alugava uma voadeira (pequena embarcação) e ia levar água e ração para eles em cima dos telhados”, conta.
Indira que era uma das voluntárias junto com Clotilde, atualmente ajuda no projeto “Quem Ama Castra”, que incentiva a castração de animais para evitar a superpopulação.
A Pretinha foi uma das beneficiadas pelo projeto há quatro anos. Como as voluntárias não possuem abrigo, criaram uma casinha provisória para a cadela na calçada da pessoa que se dizia dono. Em junho deste ano Pretinha foi atropelada e acabou perdendo um dos olhos.
Com a ajuda de doações solicitadas nas redes sociais, as protetoras pagaram o veterinário e abrigaram a cadela até que ela encontrasse um tutor responsável. No início de julho Pretinha foi adotada e agora vive com muito amor.
Além do projeto de castração, o projeto que Indira ajuda teve a iniciativa de instalar comedouros e bebedouros públicos para os animais de rua.
Dificuldades durante a pandemia
No último ano, a pandemia de Covid-19 também impactou os trabalhos. O número de abandonos, por exemplo, aumentou.
“O pessoal vai mudando para apartamento e se desfazendo [dos animais]”, conta Clotilde.
A cuidadora foi infectada pelo coronavírus e ficou muito mal. Já com a saúde comprometida, ela sofreu um acidente e quebrou um dos braços. Agora enfrenta dificuldade para cuidar dos animais.
“As pessoas só querem deixar os animais aqui e está super lotado. A maioria são os próprios donos dos animais. Eles vem aqui e jogam, abandonam os animais, amarram nos postes aqui na frente. Os gatinhos eles colocam numa caixa e deixam por aqui”, revela.
Outro grande obstáculo no trabalho é a questão financeira. Quase todos os recursos utilizados em favor dos animais vem do bolso da própria cuidadora ou de familiares. Segundo ela, raramente aparece alguém para realizar uma doação.
As feiras de ação que a ONG costumava realizar estão temporariamente suspensas durante a pandemia para evitar aglomerações. Por conta das questões financeiras e da lotação eles não conseguem abrigar mais nenhum animal.
“É cruel a solidão. Se tivesse ajuda do poder público para pagar pelo menos um ou dois funcionários já ajudava. Lugar eu tenho, não tenho é como cuidar mais”, aponta. Clotilde pede conscientização e responsabilidade das pessoas.
Denúncias
Em Rondônia, as denúncias de maus tratos podem ser feitas na Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes contra Meio Ambiente (DERCCMA), através dos números 197 ou WhatsApp (69) 98439-0102.
De acordo com a delegacia, somente nos oito primeiros meses deste ano, as denúncias de maus tratos mais que dobraram se comparado com o registrado ano passado.